A intervenção urbana é uma forma de arte cujo objetivo é interagir, de maneira criativa e poética, com o espaço cotidiano e as pessoas. As intervenções são capazes de reinventar, ainda que momentaneamente, novos sentidos ao espaço escolhido e suscitar novas percepções às pessoas.

20.4.15

Edição de abril do Sarau do PI aborda o universo erótico na literatura e na performance



A partir da direita: Marcelo D'Avilla, Banquete Obsenu, Amor [Sem título], Sweetie Bird e 'Meu corpo minhas regras

Evento na Casa das Rosas reunirá diversos artistas e conta com a participação livre do público expondo suas principais autoras eróticas.

         O universo erótico será o centro da atenções da próxima edição do Sarau do PI, sobre Literatura Feminina Contemporânea. O evento será realizado na Casa das Rosas, localizada na Avenida Paulista, no próximo dia 25 de abril (sábado), a partir das 7h da noite.

         O Sarau do PI é uma tradição do Coletivo e tem como principal característica a união de diferentes linguagens artísticas, como música, literatura e performance. Alguns artistas já estão confirmados, mas o sarau conta também com os momentos onde o público em geral pode subir ao palco e expor suas poesias e textos próprios ou de suas autoras favoritas. Será o dia para mostrar a beleza e a poesia que carrega a Literatura Erótica e que esta faz parte de todas as pessoas e possui um espaço importante na Literatura e na arte em geral.

         Entre os convidados do Sarau estará a Ana Rüsche, escritora e pesquisadora, autora dos livros Rasgada (200 5), Sarabanda (2007), Nós que Adoramos um Documentário (2010) e Acordados (2007). A escritora mantém site anarusche.com e o blog ana erre furiosa, onde a autora publica seus textos e dá dicas sobre literatura. Entre as performances, o artista Marcelo D'Avilla assume seu pseudônimo "Sete de Ouros" e levará duas performances que discutem o empoderamento do gênero em suas multiplicidades, questionando sobre "o que é o feminino" e "o que é erótico", a ação The Lap Dance Is Present de caráter relacional e duracional e Kátia Flávia embalado por um hino pop nacional onde em sua poesia a mulher torna-se dona do morro e legitima seu poder na sociedade. Já a ação Banquete ObsceNU será realizada por Marose Leila e Barros Batista que parte da leitura de fragmentos literários do livro ‘Contos d’escárnio – textos grotescos’, uma das três obras que compõe a trilogia obscena de Hilda Hilst. A performer Sweetie Bird, fará uma apresentação burlesca a partir de uma das músicas da cantora americana Ella Fitzgerald. Durante o sarau será exibido a vídeo performance Amor [Sem Título], de Priscilla Toscano. Através da actionpainting, beijos, abraços, apertos, amassos, muito amor e tesão ao lado do performer Atton Macário, a artista pinta uma tela a partir de vaginapainting. Durante todo o sarau, o artista Jean Carlo Cunha executará a ação poética Meu corpo, minhas regras - 2, concebida para o Sarau do PI e que interliga as quatro edições do evento. A primeira ação ocorreu durante o sarau de março, sobre poesia e crônica Feminina. Um caderno foi disposto para o público onde este poderia se manifestar a partir da frase Meu corpo, minhas regras. A segunda ação parte da mesma frase e as pessoas poderão se manifestar sobre por meio de espelhos, batons e lápis de olho. "Acredito que são ações simples, que com a participação coletiva, podem ter potência e ser transformadoras, como grande parte dos ideais do Coletivo PI". Conclui Jean Carlo Cunha.

         O Sarau do PI  - Literatura Feminina Contemporânea foi vencedor do edital para promoção de Saraus na Casa das Rosas em 2015, concebido pela Poiesis. Em março foi realizada a primeira edição sobre Poesia e Crônica Feminina. Em abril, será a vez da Literatura Erótica. Em maio, dia 30, o tema será Literatura Marginal e dia 04 de julho, o sarau abre espaço para a Dramaturgia Feminina. O evento é aberto ao público e a entrada é franca.


Saiba mais sobre os convidados e suas apresentações no Sarau do PI - Literatura Erótica



Juliana Frank
Roteirista e escritora. Seu primeiro livro publicado, Quenga de Plástico (2011/ 7 letras), a revelou como um dos novos e fortes nomes da literatura erótica brasileira. Por causa dele, a escritora ganhou fama de desbocada e ousada na sua linguagem e recebeu críticas por escrever sobre sexo da forma como faz. Em 2012 participou da coletânea 50 versões de amor e prazer: 50 contos eróticos por 13 autoras brasileiras, da Geração Editorial. Em 2013 lançou Cabeça de pimpinela (7 letras) e Meu Coração de Pedra Pomes (Cia das Letras), fortalecendo a literatura de personagens femininas. Seus textos também foram publicados no caderno Ilustríssima, da Folha de S.Paulo, e nas revistas Cult e Lado7. Saiba mais sobre o trabalho de Juliana Frank em Blog: http://joufrank.blogspot.com.br/



Foto: Divulgação
Ana Rüsche

Escritora, atende também por ana erre. Ministra oficinas de criação e cursos sobre arte contemporânea. Faz o próprio pão, a própria cerveja e mora com seu cão. Há dez anos produz blogs e sites voltados para a literatura. Hoje ela administra o site anarusche.com e o blog ana erre furiosa. Seu primeiro livro foi uma edição de autor, o Rasgada (Quinze & Trinta, São Paulo: 2005), que recebeu tradução ao espanhol (Ed. Limón Partido, Cidade do México:2008, tradução Alberto Trejo, rev. Alan Mills). Depois publicou o Sarabanda (poesia, Selo Demônio Negro, São Paulo: 2007), que recebeu, em 2013, uma 2a edição da Ed. Patuá (2013). Seu terceiro livro de poesia foi o Nós que Adoramos um Documentário (poesia, Ed. Ourivesaria da Palavra, São Paulo: 2010, apoio ProAC – Secretaria de Estado da Cultura). Em prosa, Ana assina o romance Acordados (Ed. Amauta, Brasil: 2007, apoio PAC – Secretaria de Estado da Cultura), quando estruturou o projeto Distribuição por Contrabando, onde leitores escolhidos pela autora recebiam 10 exemplares do livro e se comprometiam em entregar um exemplar para outras leitores.




Foto: Paula Coradini
Marcelo D'Avilla - Sete de Ouros

Bailarino desde 2003 com formação pela Royal Academy of Dance – Londres. Atualmente assina a curadoria do festival Música.Performance do Centro Cultural do Banco do Brasil (SP). Seus mais recentes trabalhos “Gender Freeak” (2013-2014) e “The Lap Dance Is Present” (2014) fazem parte do primeiro e segundo volume do Contemporary Performance Almanac, lançado internacionalmente pela ContemporaryPerformance.org (2014-2015). O performer levará ao Sarau duas performances que discutem o empoderamento do gênero em suas multiplicidades, questionando sobre "o que é o feminino" e "o que é erótico". Sua ação "The Lap Dance Is Present" se conecta diretamente ao público pelo seu caráter relacional e duracional de uma ação feita especificamente para uma única pessoa. A performance já foi apresentada no Pop Porn Festival 5 - SP, no Porn Film Festival Berlin 9 - Alemanha e na Semana de Cultura do Mackenzie no DAFAM. Já "Kátia Flávia" carrega os ícones de uma sociedade guiada pela cultura do corpo, embalados por um hino pop nacional onde em sua poesia a mulher torna-se dona do morro e legitima seu poder na sociedade. "Kátia Flavia" foi apresentada no Pop Porn Festival 5, na Erotika Fair 2015 e no Festival Yes, nós temos burlesco, do Rio de Janeiro. Link: marcelodavilla.wordpress.com




Foto: Diógenes S. Miranda & Lua Lopes
Banquete ObsceNU

Crasso, Otávia, Flora, Josete, dentre outros personagens da escritora Hilda Hilst, convidam o público para um saboroso banquete `obscenu` a luz de velas e regado com a leitura de fragmentos literários e adoráveis bandalheiras da autora. Os personagens, apresentados no banquete pelos atores Marose Leila e Barros Batista fazem parte do livro ‘Contos d’escárnio – textos grotescos’, uma das três obras que compõe a trilogia obscena de Hilst. No excerto que será lido, o sexagenário Crasso resolve narrar suas memoráveis aventuras sexuais. Um texto muito palatável, parecendo contrariar o que dissera anteriormente Hilda Hilst de seu trabalho: “- Parece que sou mesmo indigesta”. Banquete obscenu traz à mesa uma pitada de prazer, deleite e erotismo. Um alimento muito aprazível para o corpo e a alma.

Ficha técnica

Concepção geral: Marose Leila e Barros Batista
Pesquisa e seleção de textos: Marose Leila, Barros Batista e Tatiana Schunck
Direção: Tatiana Schunck
Pesquisa visual: Juliana Mendonça do Vale




Foto: Alex Korolkova
Sweetie Bird

Uma das primeiras strippers burlescas a se apresentar no Brasil, Sweetie Bird estudou diversos estilos de dança, do balé clássico ao waacking, como meio de adquirir um belo repertório de movimentos. Co­fundadora, ao lado de Marcelo D'Avilla, do primeiro coletivo burlesco do Brasil, o The BurlesqueTakeover. Sweetie Bird, também conhecida por seu nome de registro Rejoice Sunshine e se apresenta por todo o país desde o final de 2006 e agora também pode ser vista com frequência nos palcos de Las Vegas. É apresentadora o segmento de culinária Cozinha ao Ponto no programa Pornolândia, produzido pela XPlastic para o Canal Brasil. A performer trabalha principalmente com os estilos neo­burlesco e cabaret mas recentemente começou a usar o Burlesco Clássico e Bustout como ferramentas de humor e narração, influenciada pelas aulas feitas e o contato direto com as lendas vivas do gênero.

 

Foto: Hugo Cabral
Amor [Sem Título]

Arte, performance, dança, action painting, vagina painting, amor, sexo, paixão, tesão, namoro, casamento, exibicionismo, romance, ilusão, pornografia, fantasia, homem, mulher, plurais, Adão, Eva, XX, XY, feminino, masculino. Muitos títulos, tantas definições e posses.  A performance Amor [sem título] foi concebida por Priscilla Toscano e experimentada pela primeira vez por ela e Atton Macário no III Festival Pop Porn em São Paulo. A video performance foi criada a partir desse primeiro experimento. Através da actionpainting, beijos, abraços, apertos, amassos, muito amor e tesão eles pintam uma tela a partir de vaginapainting realizada pela performer. Priscila e Atton viveram um Amor sem título durante um ano. A video performance foi editada pela artista após o término do relacionamento. Duração 6 minutos.
Fan Page: Priscilla Toscano




Foto: Roni Adame
Meu corpo minhas regras - 2

Jean Carlo Cunha cria a Ação Poética "Meu corpo, minhas regras", 1, 2, 3 e 4, pensadas para serem apresentadas nas quatro edições do Sarau do PI na Casa das Rosas. Tratam-se de ações poéticas que dialogam com as questões em torno do universo feminino, onde a decisão do uso do corpo, deve ser pessoal e intransferível, nem da igreja, nem da família e nem do Estado. É uma frase que surge em meados de 2012 no movimento "Marcha das Vadias", e desde então é usada para uma série de protestos e manifestações feministas. A ação - 1, foi apresentada no primeiro sarau (poesia e crônica) e contava com um caderno sob uma mesa, onde com uma caneta o público poderia se manifestar a partir da frase disparadora: "Meu corpo, minhas regras". A Ação - 2, será apresentada no segundo sarau (erótico) e contará com espelhos, onde com batons e lápis de olho, o público poderá se manifestar a partir da mesma frase.


Sarau do PI - Literatura Erótica

Quando: 25 de abril (sábado)

Horário: das 19h às 21h30

Onde: Casa das Rosas – Avenida Paulista, 37 (próximo à estação de metrô Brigadeiro)

Atividade gratuita (livre)

6.4.15

A pele que não habito

Foto: Rodrigo Dionisio/FramePhoto
Texto do fotógrafo Rodrigo Dionisio sobre o registro do primeiro experimento da performance Contornos sem collant

O corpo nu é um dos temas recorrentes da fotografia. Por mero voyeurismo, exibicionismo ou a velha ligação da fotografia com as artes plásticas. Enquanto lê esta frase, milhares (talvez milhões) de objetivas estão apontadas para seios, vaginas, pênis e ânus. Ou tetas, bucetas, picas e cus, dependendo da intenção e do gosto do freguês. Do estudo do corpo nas escolas de fotografia ao selfie erótico, passando pela pornografia, câmeras registram as mais variadas peles com os mais diversos objetivos. Eu mesmo tenho um projeto de nu e a cidade, em busca de modelos e de decolagem.

Foto: Rodrigo Dionisio/FramePhoto
Em boa parte por isso não houve hesitação em aceitar o convite para registrar a primeira performance sem collant de Contornos, do Coletivo PI. Já havia fotografado Entre Saltos. Por questões de agenda perdi a apresentação de pintura com o corpo no Sesc, esta “vestida”. Era algo novo para as “meninas” e para mim. Já fotografei peças de teatro com nudez a rodo (Evoé, Oficina), sambistas se exibindo despudoradamente durante desfiles de Carnaval para milhões na avenida, estudos de corpo em aulas de fotografia, apresentações de sexo explícito, amigas e conhecidas para ensaios. A novidade aqui era registrar mulheres que aprendi a respeitar e que, principalmente, têm me ajudado a pensar o feminino. Era eu, homem, tentar entrar nessa vivência tão presente e alheia ao mesmo tempo.

Fotógrafos vão entender (ou não). Fotografar um corpo nu ou uma natureza morta, uma cesta de frutas sobre uma mesa, dá na mesma. Não estou coisificando as pessoas. Mas o ato de fotografar envolve mais escolhas técnicas, estéticas, históricas que uma divagação a respeito do que se fotografa. Por isso é possível fazer grandes fotos de absolutamente qualquer coisa. Também não estou pregando falta de envolvimento com o tema. Mas deve-se desconfiar de grandes fotógrafos cujos assuntos registrados são sempre mais interessantes do que como eles foram expostos. Isso é outro papo, e, enfim, lá estava eu em uma sala de 5 por 5 metros, se tanto, lotada, com uma iluminação precária, aguardando o início da performance. Configurações da câmera ajustadas, uma série de ideias sobre o que fotografar, pensando por onde conseguir me mover. Aguardando.

Começa a música, as quatro entram em cena, e é como andar de bicicleta. Enquadra, clica, revisa, pensa. Isso dura até começar o banho de tinta. Algo acontece ali naquele quadrado cercado de paredes brancas que tem um poder difícil de explicar, ou mesmo registrar em imagens. Meu tempo ainda pouco de fotografia (sempre vou achar pouco) me ensinou o limite do envolvimento. Até onde posso ir sem prejudicar meu trabalho. Mas admito, em determinado momento fotografar me importava menos. Dava para sentir a pulsação do que ocorria ali, uma respiração forte dentro da performance e só. Corpos nus já não eram a questão, eu via cores, gestos, expressões.

Foto: Rodrigo Dionisio/FramePhoto
A performance termina com a assinatura, um corpo mesclado de todas as cores se retira e sobra a vontade de aplaudir. Mas elas não retornam à cena, nos deixam lá meio órfãos. Percebo só nesse momento ter sido atingido por alguns respingos de tinta. Não é uma sensação nova, já encontrei uma bala de borracha dentro da minha mochila depois de cobrir uma manifestação, e apenas imagino o momento no qual ela foi parar lá. E esse paralelo não é gratuito. A força, a adrenalina e o envolvimento ao fotografar Contornos foi similar. É um ponto onde o fotografar se perde e se mescla no fotografado e leva o funcionário de Flüsser um tanto além do ato de apertar um botão. Em duas palavras: obrigado, meninas.

Obrigada, Rodrigo!!!
Coletivo PI

Rodrigo Dionisio é fotógrafo, proprietário da agência FramePhoto e professor do curso técnico de Processos Fotográficos do Senac São Paulo.

PERFORMANCE CONTORNOS

4.4.15

Contornos - experimento #04

Foto: Rodrigo Dionisio/FramePhoto
Pela primeira vez a performance Contornos foi realizada com os corpos nus pintando uma parede. Nesta postagem, algumas performers contam como foi participar dessa experiência.  


Foto: Rodrigo Dionisio/FramePhoto
“Embora ‘tinta sobre pele’ não seja nenhuma novidade na minha experiência como artista, a proposta de Contornos colocava o corpo pintado em um espaço que precisava ser preenchido com movimentação, coreografia e música. Isso era algo novo para mim. Em um curto espaço de tempo precisei me apropriar de um processo que já estava em andamento anteriormente em temporada no Sesc Ipiranga, mas acredito que uma ação performática permite esta dinâmica de estar sempre se transformando. O espaço físico e a nudez eram fatores novos na realização da performance que até então havia sido realizada em espaço público com collants, o que dava a esta apresentação um certo caráter de experimento. O espaço no Mackenzie era intimista, o público bastante receptivo e quando vi estava submersa em tinta seguindo o fluxo da ação. Passeando de salto alto imprimindo formas ao espaço. Traçando contornos e os borrando em seguida extrapolando as formas delimitadas pelas rígidas linhas pretas do grafite. Sou grata pela oportunidade de compor esta obra que deixou estampada a nossa diversidade no melhor estilo PI de celebrar o feminino”. Emanuela Araújo, atriz e performer.

“Esta é foi quarta vez que realizo Contornos. A simples ação de carimbar-se em uma tela fez, em todas as vezes, com que eu entrasse em conflito e em comunhão com minhas crenças, meu corpo, a tela a ser pintada, o público e com espaço onde a ação é proposta. No primeiro experimento, a principal marca pra mim foi o risco ao se jogar
Foto: Rodrigo Dionisio/FramePhoto
numa tela e cair no chão sem saber onde e como o corpo iria parar. No segundo e terceiro foi introduzir movimentos coreografados e fazer no espaço da rua onde o público não é fixo e tudo que é feito ganha potência em dobro. O quatro experimento tratou do corpo nu em um espaço fechado para poucas pessoas. Já fiz trabalhos com o corpo nu exposto antes, portanto, não pensei muito nisso antes de fazer. Não que expor a nudez seja algo totalmente resolvido e de fácil exposição no dia a dia. Acredito que nunca será pela própria maneira como a sociedade foi constituída, principalmente a constituição do feminino na sociedade. Quando tiramos as chapas e fizemos o stencil estava exposta, mas não me sentia invadida, quando abri a vagina e a tinta caiu pela primeira vez, só procurei sentir o que era esse material frio caindo em mim. Quando, depois de quatro carimbos eu coloquei a minha mão no pescoço e desci pelo tronco eu me dei conta: era a minha pele que estava tocando com as mãos. Não era tecido, era tinta, eu e o ar... tinha algo de visceral ali que até então não tinha experimentado. Percebi que o não pensar no corpo nu era uma forma de defesa, de anular esse detalhe da ação, e que agora o jogo era leva-lo sim em consideração. Se olhar no espaço, olhar para as performers que estavam comigo, olhar para as pessoas, para a tela e pensar ‘sou eu, este é meu corpo brincando e dançando do jeito dele, da melhor e mais sincera forma que eu sei fazer agora. E esse agora é a única coisa que importa’. O resto do jogo foi uma sucessão de descobertas e prazeres dentro do jogo vivo da performance”. Chai Rodrigues, atriz e performer.

“O jogo que acontece em Contornos é o principal ingrediente dessa ação. O que queremos é pintar algo ao vivo através da brincadeira e para isso usamos nossos corpos como ferramenta. Esse encontro lúdico entre nossos corpos é protagonista em Contornos, o resto é secundário, inclusive a nudez. As cores que iremos utilizar, o espaço que vamos pintar, a sonorização deste momento e as vestimentas que iremos ou não usar, nada disso é mais importante do que o a celebração promovida pelo encontro de nossos corpos em comunhão com a tinta, o espaço a ser pintado e público. Usar ou não usar o collant em
Foto: Rodrigo Dionisio/FramePhoto
Contornos de fato associa impactos estéticos e signos diferentes para nós e para o público, mas isso está aquém da ação primeira fundamental que é entregar-se a construção de nossa tela. No dia 9 de fevereiro deste ano, experimentamos pela primeira vez a performance Contornos com público expondo nossos corpos nus. Isso com certeza modifica a obra e isso é esperado, pois a obra nasceu com a vontade de ser modificada a cada vez que realizada, seja essa modificação causada pela nudez ou pela falta dela, pelo espaço onde vai ser realizada, pelas cores, pelo público, pelo vento, pela chuva, pelo sol, ou elementos externos que venham a surgir e que não estão sob o nosso controle. O que fazemos é performance, e em noventa por cento de nossas experiências atuamos na rua, e essa escolha tira de nosso controle as modificações e interferências que nossas obras  sofrem. É isso que mantém nossa arte viva. A nudez experimentada pela primeira vez com público em Contornos revelou novas possibilidades de jogo para nós performers. Para mim o que há de mais interessante ao nos colocarmos nuas em Contornos é poder mostrar a força que tem o corpo nu como um símbolo claro. Somos mulheres e discutimos nessa ação o desequilíbrio que há entre a cobrança social de cultivarmos contornos corporais ditados pelos padrões estéticos e a vontade de desconstruir esses padrões não pela via da recusa bélica agressiva e sim pela via da brincadeira debochada. Nas revistas masculinas sempre vemos mulheres nuas, mas na realidade essas imagens não mostram o corpo nu em seu estado puro e orgânico, o que se vê são mulheres nuas vestidas até o pescoço de ideias machistas e conservadoras. A atitude de nos colocarmos nuas em Contornos é mais um elemento de estímulo à celebração que queremos que aconteça no momento da feitura da tela. Através dessa celebração, nosso desejo é colocar nossos corpos em oposição a essas ideias machistas conservadoras revelando o corpo feminino nu em seu estado estético lúdico”
. Priscilla Toscano, performer, diretora do Coletivo PI



Este experimento foi realizado dia 09 de fevereiro de 2015, dentro da programação da Semana de Arte Cultura do curso de Arquitetura da Faculdade Mackenzie, em São Paulo, com curadoria de Marcelo D'Avilla. Fazendo assistência de produção da ação estão: Jean Carlo Cunha e Mari Sanhudo

PERFORMANCE CONTORNOS
Fotos: Rodrigo Dionisio/FramePhoto

1.4.15

Sarau do PI, 1ª edição 2015, falou sobre poesia e crônica feminina contemporânea

Foto: Roni Adame
O sarau contou com artistas nas áreas da literatura, música e performance.


A pesquisa “Personagem do romance brasileiro contemporâneo: 1990-2004”[1], coordenada pela professora da UnB Regina Dalcastagné, a partir de 258 romances publicados por autores brasileiros nas editoras Companhia das Letras, Record e Rocco, mostrou que a predominância é de personagens do sexo masculino, representando 62,1% do universo estudado, contra 37,8% das personagens femininas. Além disso, só em 1,6% do total do corpus não há nenhum personagem importante do sexo masculino. Já os personagens femininos não aparecem em 41 romances, ou seja, em 15,6% da totalidade do conjunto de obras analisadas. 

No campo da produção, de acordo com a mesma pesquisa, a estatística é a seguinte: 72,7% dos autores são homens. A porcentagem não é muito diferente em comparação com a lista final dos melhores jovens escritores brasileiros da edição especial da revista Granta[2], publicada em julho de 2012. Dos 20 contos reunidos no volume, 14 (70%) foram escritos por homens e seis (30%), por mulheres. 

Dia 28 de março foi realizada a primeira edição do Sarau do PI – Literatura Feminina Contemporânea, que tem como principal intuito mostrar essa produção feita por mulheres e sobre o universo feminino. O evento faz parte da programação de saraus literários vencedores do edital Chamamento Público Poiesis 02/2014 - Proposta de Sarau Poético Casa das Rosas, Espaço Haroldo Campos de Poesia e Literatura

O Sarau começou com um bate papo entre as escritoras Lilian Aquino e Elisa Andrade Buzzo que falaram sobre seu trabalho e principais referências. A conversa foi mediada pela editora e mestranda em Teoria Literária e Literatura Comparada, Talita Mochiute. 

Paula Castiglione interpretou músicas de compositoras brasileiras com voz e piano enquanto a artista Luanah Cruz tomava o espaço do sarau com a performance Me traziam a Lembrança daqui, de..., onde os convidados podiam interagir com a performer escrevendo suas memórias e frases em uma saia de trinta metros de comprimento. A noite terminou com a exibição do documentário Entre Saltos, do Coletivo PI. 

Em meio a tudo isso, muitas autoras ganharam destaque nas vozes dos participantes que declamavam suas poesias e crônicas como, Paula Tateilbaum, Ana Laura Nahas, Hilda Hist e Angélica Freitas. O próximo Sarau do PI Literatura Feminina Contemporânea será dia 25 de abril, na Casa das Rosas. O tema será literatura erótica.

Sarau do PI Literatura Feminina Contemporânea
Fotos: Roni Adame




[1] Cf. DALCASTAGNÈ, Regina. “A personagem do romance brasileiro contemporâneo: 1990-2004”. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, n.º 26. Brasília, julho-dezembro 2005, pp. 13-71.

[2] O projeto da Granta brasileiro recebeu 247 inscrições de escritores de prosa, nascidos a partir de 1972 e com ao menos um texto ficcional publicado no Brasil. A lista final foi resultado da análise de sete jurados que avaliaram o potencial desses jovens escritores influenciar o panorama da literatura nacional. 

As informações acima acima sobre o mercado literário foram cedidas por Talita Mochiute.