A intervenção urbana é uma forma de arte cujo objetivo é interagir, de maneira criativa e poética, com o espaço cotidiano e as pessoas. As intervenções são capazes de reinventar, ainda que momentaneamente, novos sentidos ao espaço escolhido e suscitar novas percepções às pessoas.

11.3.15

Saltos ecoam no chão e cortam o ar

Performance no viaduto Dom Luciano Mendes de Almeida
Foto: Rodrigo Dionisio/Frame
O coro de Entre Saltos caminhou pela zona leste de São Paulo expondo a potência do feminino.

No dia 08 de março é comemorado o Dia Internacional da Mulher. A primeira pessoa a sugerir esse dia foi a jornalista e professora Clara Zetkin na Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, em 1910 na cidade de Copenhague, Dinamarca. Eram anos de grandes transformações no mundo e no comportamento das pessoas. O dia internacional da mulher era o marco de lutas pela igualdade de direitos ocorrida durante todo o ano e que reverberam na organização da sociedade hoje. Hoje há certo esvaziamento nesta data que é marcada por presentes, flores, cartões online e matérias falando sobre a ‘força da mulher’. Questionamentos e lutas por uma igualdade, ainda muito longe de ser alcançada, perderam um pouco esse espaço, mas ainda persistem algumas iniciativas e pessoas que continuam o legado.

 Durante o mês de fevereiro até abril de 2015, o Sesc Belenzinho promove o projeto Mulheres em Cartaz que debate, por meio de uma ampla programação e convidados das mais diversas especialidades, o contexto feminino hoje. Neste universo, a performance Entre Saltos, do Coletivo PI, foi inserida. A ação reuniu cerca de 30 pessoas decididas a agir e pensar por meio da arte o que é isso que chamamos de feminino; o que se quer dizer quando é mencionada a palavra mulher e que luta é essa, e pra quem ela é direcionada, do gênero feminino. Muitas questões herdadas e ressignificadas ao longo desses mais de 100 anos de questionamentos oficializados.

Performance subindo a estação Belém do metrô.
Foto: Rodrigo Dionisio/Frame
Dentro da performance participaram pessoas de várias idades, gêneros e formações. As oficinas preparatórias ofereceram ao Coletivo uma nova possibilidade de estética e fruição da intervenção. Num jogo de ‘coro e corifeu’* gestos foram sugeridos com os sapatos levados à mão durante a caminhada. Durante a performance no dia 08, essa condução de gestos foi dividida entre as participantes. Imagens lindas e poéticas surgiram a partir desse jogo entre as performers. O sapato, símbolo da feminilidade e, neste contexto, também símbolo de desequilíbrio, ganhou novas formas e interpretações: foram armas, pesos, filhos, extensores de braços, baquetas para produzir sons na cidade e produziram uma marcha forte que ecoou pelas ruas da região.

Entre Saltos saiu da unidade do Sesc, atravessou a estação de metrô Belém, entrou no bairro, passou por cima da Avenida Salim, caminhou e atravessou a estação Tatuapé e voltou pelo viaduto Dom Luciano Mendes de Almeida, passando pelo Cemitério da Quarta Parada até chegar ao Sesc novamente. Após o percurso, os sapatos foram instalados na escadaria principal do Sesc Belezinho como uma cascata de pés em posição de caminhada. A instalação deve permanecer no espaço até o final do ‘Mulheres em Cartaz’, mas o percurso a ser seguido por mulheres pela igualdade de gêneros, inclusive na produção artística, ainda é um caminho de subidas e descidas constantes.  

Instalação dos sapatos ao final da caminhada.
Foto: Rodrigo Dionisio/Frame

Performance Entre Saltos
08|03|2015
Fotos: Rodrigo Dionisio/Frame


*’Coro e corifeu’ é um dos nomes de um exercício geralmente aplicado para treinamento em teatro e performance de atuadores. Consiste em uma pessoa a frente das outras que propõe um gesto ou movimentação e o restante do grupo deve segui-lo até que o comando do jogo seja passado para outra pessoa que repete a dinâmica. 

Por Chai Rodrigues

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