A intervenção urbana é uma forma de arte cujo objetivo é interagir, de maneira criativa e poética, com o espaço cotidiano e as pessoas. As intervenções são capazes de reinventar, ainda que momentaneamente, novos sentidos ao espaço escolhido e suscitar novas percepções às pessoas.

6.12.12

Performance Cegos no Rio de Janeiro


  Dezenas de executivos, homens e mulheres, vestidos a rigor, portando maletas, bolsas, celulares e documentos, caminham lentamente cobertos de argila e de olhos vendados misturam-se aos pedestres desestabilizando o fluxo cotidiano do centro financeiro e político da cidade. A performance, realizada pelo Desvio Coletivo e Coletivo Pi, chocou a Av. Paulista na quarta-feira, 17 de outubro, no horário do almoço. Dentre outros veículos, a Folha de S.Paulo do dia seguinte estampava o impacto visual do trabalho artístico.

Cegos visa intervir poeticamente na cidade e provocar diferentes leituras: o aprisionamento e a petrificação da vida por meio do excesso de trabalho, a automatização da vida cotidiana, a degeneração ética que se instaurou no eixo politico, financeiro, jurídico da sociedade.
 
Pensada para ser uma performance que possa ser replicada em diferentes metrópoles, desta vez será realizada nas ruas do Centro do Rio de Janeiro na próxima sexta-feira dia 07 de dezembro, das 12h às 15h. O trajeto terá início no Circo Voador, atravessando a Cinelância, Largo da Carioca, Avenida Rio Branco, Igreja da Candelária, Assembleia Legislativa, dentre outros pontos significativos para a ação. A ação no Rio de Janeiro tornou-se viável em virtude da parceria do coletivo carioca Heróis do Cotidiano, que realiza um trabalho fundindo teatro, artes plásticas, dança e ativismo político.

A Parábola dos Cegos (1580), Pieter Brüegel.
A ação performativa Cegos pretende provocar uma forma distinta de perceber e vivenciar os dispositivos sociais cotidianos, de pensar a relação entre arte e mercado e de visualizar o sujeito contemporâneo na era globalizada. A proposta visual da performance faz uma crítica à condição massacrante característica de todo tipo de trabalho corporativo iconizado no terno e gravata usados pelos homens e no terninho ou tailleur adotado pelas mulheres em toda grande metrópole. O título da ação é inspirada no quadro “A Parábola dos Cegos”, de Pieter Bruegel (1580), em que se veem cegos conduzindo cegos, cada qual tentando encontrar algum apoio para avançar pelo caminho.


Fotos de Eduardo Bernardino


Sobre o Coletivo Heróis do Cotidiano
Além das intervenções urbanas, o Coletivo apresentou seus trabalhos em diversos eventos artísticos como a Mostra de Artes do SESC São Paulo, o Encontro de Arte Contemporânea de Aix-en-Provence (França), o Fórum Cidade Criativa, a Mostra Globale, o Festival de Cinema de Washington, onde foi premiado. Ganhou também o Prêmio "Artes Cênicas nas Ruas 2010" e o "Prêmio de Circulação do Estado do Rio de Janeiro" em 2011. Em 2012, realizou o espetáculo "Por que você é pobre?", com direção de Tania Alice e produzido sem circulação de dinheiro unicamente na base da troca. "Cegos" é a primeira parceria do Coletivo Heróis do Cotidiano com o Desvio Coletivo e o Coletivo Pi, ambos de São Paulo.

Sobre o Desvio Coletivo
O Desvio Coletivo é uma rede de criadores em cena performativa. Cria espetáculos multimídias relacionais, instalações cênicas, intervenções artísticas em espaços não convencionais (site specifics), acontecimentos (happenings), performances urbanas, ações na Internet. Coordenado pelos diretores Marcos Bulhões e Marcelo Denny o Desvio Coletivo reúne mais de vinte artistas de diversas áreas. O grupo atua desde agosto de 2011 em parceria com o Laboratório de Práticas Performativas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP) e o Laboratório de Performance e Pedagogia do Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (UNESP).

Nenhum comentário:

Postar um comentário