No sábado dia 19 de março aconteceu
no SESC Taubaté mais uma edição do Sarau do PI, dando continuidade a temática
da Literatura Feminina Contemporânea, iniciada na Casa das Rosas em 2015 com um
ciclo de quatro edições.
O sarau do PI é uma tradição,
originada em 2010 quando tínhamos nossa antiga sede na zona norte de São Paulo
e reunia amigos e pessoas interessadas em partilhar experiências artísticas,
pequenas cenas, leituras, performances e canções. Em 2015 o projeto ganha uma
nova força com a escolha de abordar a literatura feminina contemporânea e novas
artistas, dando voz para essas produções. Assim, ocupamos a Casa das Rosas no
primeiro semestre daquele ano, agregando pessoas à discussão e divulgando essas
novas produções.
Agora
em março a convite do Sesc Taubaté levamos esse formato para cidade, realizando
um sarau intimista, de muita troca e diálogo. Na programação tivemos o bate-papo
mediado pela Talita Mochiute, parceira nossa para área de literatura, com a
escritora Lilian Aquino e as poesias de seu livro “Pequenos Afazeres
Domésticos” e de Michele Santos, organizadora do Sarau Sobrenome Liberdade, que
recentemente lançou o seu livro “Toda Via”. A conversa versou sobre as
desigualdades ainda presentes no cenário artístico e literário da divulgação e
espaço para produções de mulheres. O lugar de onde se escreve que é sempre
carregado da história de cada pessoa. Aqui, Michele ressaltou a importância dos
movimentos de saraus e escrita independente na periferia para quebra do “EU”
masculino e contribuindo para formação de outras perspectivas para jovens e
garotas além do universo doméstico. Lilian ainda colocou na prosa, os poemas de Ana
Cristina César.
Mais uma vez, tivemos a presença de Paula
Castiglione, grande amiga, interpretando com voz e piano grandes compositoras
brasileiras: Chiquinha Gonzaga, Dolores Duran, Carolina Maria de Jesus e Rita
Lee. Sem contar, a irreverência de Priscilla Toscano e Paula dando vida à
musica Mulher de Fases. Relembrando que
durante muito tempo na nossa história as mulheres eram caladas ou suas
composições eram assinados por homens. Ainda tivemos o experimento meu e de
Priscilla de uma versão para a ação: O
que você carrega na sua bolsa? , em que retiramos da bolsa objetos que
transformam a nossa aparência, elementos da imposição de padrões e
comportamentos sociais. Ao final, nos livramos deles e deixamos no espelho a
frase: Nossos corpos, nossas regras.
Corte
Decidiu raspar os cabelos
Ela mesma
Sua intimidade com tesouras
E objetos pontiagudo
lhe dá esse ar
louco, redemoinho.
E careca,
É mais fácil sangrar.
(Lilian Aquino)
O encontro, mesmo breve, teve muita participação
das pessoas, lendo seus poemas preferidos, suas histórias, falando de si e do
mundo, tornando a palavra uma escuta coletiva. No espaço, também deixamos uma
pequena instalação poética com um varal de postais e poemas como um cantinho
sagrado de uma casa que reconta as memórias de quem ali vive, nesse caso, as
lembranças de nossa trajetória. Por fim,
terminamos com a performance Me traziam a Lembrança daqui ... de Luanah Cruz, no qual a artista se
relaciona com o público usando um vestido de mais de 30 metros, um
corpo-feminino-tapete, que se transforma ao longo da ação com poesias,
desenhos, histórias deixados pelo público. Luanah caminhou pelas ruas da
unidade, deixando um rastro ali de nossa passagem.
O sarau, trazendo as palavras de Talita: é mais um desses encontros importantes que nos lembram que não estamos
sozinhas. Para mim, que sugeri para
o PI o disparo inicial de criarmos um sarau sobre literatura feminina lá em
2014, vê-lo acontecer sempre traz a possibilidade de compartilhar palavras,
memórias, zonas de silêncio e, sobretudo, fortaleça a luta por uma sociedade menos
Ele e Ela e mais NOSSA ou seria ENTRE?
Entre ser com
E ser contra
Sejamos entre
(Michele Santos)