A intervenção urbana é uma forma de arte cujo objetivo é interagir, de maneira criativa e poética, com o espaço cotidiano e as pessoas. As intervenções são capazes de reinventar, ainda que momentaneamente, novos sentidos ao espaço escolhido e suscitar novas percepções às pessoas.

5.11.10

Sobre o Manifesto do Pijama, por Carminda Mendes

Queridos e caros
Parentes nas Artes

Escrevo ainda no calor da euforia e da sensibilidade de nossa adorável performance na Bienal.
As provocações de sensibilidade das obras, o publico ávido de experimentar, a possibilidade de transformar o espaço da Bienal em um lugar utópico, de encontros entre diferentes, tudo, para mim, foi da ordem do sublime.
Tudo aos poucos, é verdade, mas chamuscante ao final.
Nossa experiência me mostrou que ali podemos inventar espaços para o reconhecimento do corpo-coletivo, do pertencimento à uma comunidade...
Ali dialogamos com sínteses artísticas e ficamos tontos, bêbados de tantas possibilidades para a subjetividade do coletivo (estou falando de nosso grupo e dos grupos de visitadores que comungaram conosco a leitura de algumas obras).
Nunca pensei que a Bienal pudesse possibilitar o exercício pedagógico de sofremos ontem! Mesmo com todo aparado de guerra ali internalizado,
mesmo com toda a estratégia de segurança nos conduzindo a um tipo de comportamento de ‘gado’,
os pijameiros coloridos respeitando a arte,
aos olhos desconfiados e medrosos das moças e rapazes com seus pijamas de cor preta,
os pijameiros coloridos com delicadeza,
aos olhos vigilantes dos rapazes com seus pijamas cinzas,
os pijameiros coloridos de ‘manifesto do pijama’ pelo corpo todo,
mesmo aos olhos espantados dos rapazes e moças com seus pijamas de camiseta verde, conseguimos ultrapassar a visitação consumista que nos impõe a logística da administração do evento,
mesmo com todas as armas apontadas na cabeça,
conseguimos chegar perto de alguns artistas e jogar em sua obra.
O que posso dizer dessa situação do visitante da Bienal?
Os artistas estão ali estrangulados,
suas obras interativas estão sendo cercadas por grades invisíveis de ferro mássico! Visitamos uma prisão de obras que nasceram para interagir.
As obras estão encarceradas por que são insurgentes.
Como o ‘manifesto do pijama’, insurgimos com algumas obras burlando a segurança...
questionando a própria existência de uma Bienal carcerária...
Obrigada por me possibilitar abrir os poros de um corpo-tartaruga.
Um beijo em cada um que ali viveu e se transformou.
Nunca mais seremos os mesmos.
Carminda Mendes

Carminda Mendes é atriz, encenadora e performer. Atualmente pesquisa formas pós-dramáticas e arte nos espaços públicos e é docente do Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista - Unesp. Sua atual área de interesses navega entre teatro contemporâneo e conhecimento.

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