A intervenção urbana é uma forma de arte cujo objetivo é interagir, de maneira criativa e poética, com o espaço cotidiano e as pessoas. As intervenções são capazes de reinventar, ainda que momentaneamente, novos sentidos ao espaço escolhido e suscitar novas percepções às pessoas.

8.6.14

Leve e claro, o livro Manual de Intervenção Urbana, de Eduardo Srur, mostra como lidar com a arte na ruas

Lançado em 2012, a obra mostra os principais trabalhos do artista paulista e seu processo de produção e repercussão.

Capa do livro Manual de
Intervenção Urbana
As utilizações das artes como Pintura, Escultura, Teatro, Dança, Cinema, Música, Literatura... desenvolveram diversos contornos, brechas e misturas ao longo do processo de modernização. Hoje, encaixar essas manifestações em um único nicho e também seus criadores tem se tornado cada vez mais difícil. O que se configura como positivo para os artistas mais contemporâneos e uma afronta para os mais conservadores. A partir da cidade de São Paulo, o artista Eduardo Srur cria diversas intervenções urbanas utilizando recursos das artes plásticas, arquitetura, escultura, performance entre outras expressões. Em 2012, suas principais obras, feitas durante 16 anos de carreira, foram reunidas no livro Manual de Intervenção Urbana, lançado pela Bei Comunicação.  

As primeiras páginas tratam da criação em tela de Eduardo. No correr das páginas percebe-se a transposição para as ruas. A Intervenção Urbana ainda é um conceito muito novo, mas que ganha cada vez mais adeptos. Alguns artistas estendem para a cidade suas criações e fazem do espaço urbano uma plataforma de trabalho, confronto e poesia. Todos os sentimentos juntos na tentativa de tornar esse local de convivência em real local de convivência. O artista paulista Eduardo Srur defende a ocupação da cidade por todas as pessoas quando afirma: “Faça uma ação com poder, tome o espaço para si, construa uma causa que seja de todos, jogue os dados e avance cinco casas, convoque a comunidade para vivenciar a dificuldade e a alegria, domine a técnica diante de todos os obstáculos, deixe flutuar sobre a água, permita que todos participem da arte, jogue os dados e avance até o infinito” (SRUR, 2012. pag. 140).
Intervenção Âncora
Fonte: eduardosrur.com.br

O livro é dividido em capítulos como se fossem regras a serem seguidas: Conheça o Território, Meios de Transporte, Pesquisa e Uso de Materiais, Pesquisa e Uso da Cidade. A leitura é dinâmica, os textos são curtos e as imagens se explicam. Eduardo realizou a maioria de seus trabalhos na cidade de São Paulo. Todas foram desenvolvidas baseadas no que os cidadãos dessa cidade precisam pensar ou mesmo para entreter: questões ambientais, projetos culturais e comerciais na cidade a fim de estimular a relação dos moradores com o espaço. A subjetividade deve estar acima do espaço físico: "Para a psicogeografia, o espaço urbano é composto não apenas de edifícios, vias, viadutos e avenidas. O que percorre essa descrição mais evidente de uma cidade é algo menos palpável. As cidades podem ser imaginadas, projetadas, executadas, mas seu funcionamento, seus regimes de força são determinados por uma cartografia emocional. O que é amado ou detestado – a área proibida ou francamente aberta – é determinado por questões que avançam para além das estruturas físicas, expandem-se em um horizonte muito maior do que aquele que os olhos alcançam”.(SRUR, 2012. Pag. 103)
  
O livro mostra o processo de produção dos trabalhos, sua instalação, os materiais utilizados, a repercussão na mídia, histórias e curiosidades de cada obra como, por exemplo, a intervenção Âncora. O objeto foi colocado no Monumento às bandeiras em 2004. Lá ela permaneceu por algumas semanas. Quando Eduardo e sua equipe foram recolher a âncora foram impedidos pela guarda municipal que alegava estar defendendo o patrimônio público.

O legal e o ilegal
Intervenção Touro Bandido, 2010
Fonte: eduardosrur.com.br
Para a maioria de suas performances ele buscou autorização de órgãos públicos para o desenvolvimento dos projetos. Em outros, não pedir autorização tornou-se um posicionamento político por acreditar que a cidade precisa ser ocupada pelas pessoas e suas vivências. Uma das melhores passagens do livro está relacionada à intervenção Touro Bandido. Em 2010, durante a exposição CowParede na Avenida Paulista, Eduardo instalou durante a noite e sem autorização, dois touros sobre as vacas produzidas para a instalação. A repercussão foi imensa e o artista teve que responder pela intervenção no 15º Distrito Policial do bairro Itaim Bibi. Os organizadores da CowParede o acusaram de danificar as vacas expostas. A resolução do caso encontra-se na íntegra no livro onde defende que nada foi danificado e “o declarante não buscou autorização legal para expor o ‘TOURO BANDIDO’ por ser uma estratégia de artista necessária para a própria exposição pública da obra, entendendo que se buscasse autorização dos órgãos públicos competentes, não haveria tempo hábil para realizar seu trabalho. Nada mais. Lido e achado conforme vai devidamente assinado por todos e por mim Escrivã que o digitei”. (SRUR, 2012. Pag.156).
Para os querem aprender mais sobre intervenção urbana, o livro pode auxiliar a compreender melhor a dinâmica das ruas e suas implicações na criação artística. O livro Manual de Intervenção Urbana pode ser adquirido em livrarias e sebos.

SRUR, Eduardo. Manual de intervenção urbana. São Paulo: Bei Comunicação, 2012.

Por Chai Rodrigues

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